José Sanchis Sinisterra escreveu “A máquina de abraçar” em 2002 inspirado em uma
autista real que criou para si uma máquina de abraçar, cuja entrevista concedida ao
neurologista Oliver Sacks pode ser lida no livro “Um Antropólogo em Marte”. O texto
teatral parte de uma situação dramática extremamente simples: duas mulheres em cena
falando para uma platéia. Sinisterra, através do embate das personagens, questiona e
subverte vários pilares de nossa sociedade, como a linguagem, a política, a filosofia, a
ciência, a espiritualidade.
Na temporada, a exposição com curadoria do artista Raul Mourão ficará aberta à visitação
durante o dia com a iluminação, as projeções em vídeo e a ambientação sonora da peça,
além do texto gravado das atrizes que poderá ser ouvido em fones separados. A visitação
será gratuita. Desta forma, a peça de teatro é também exposição.

JUSTIFICATIVA
A comunicação, ou a falta dela, é um assunto que interessa à nossa sociedade desde os
primórdios de nossa civilização. A dificuldade de estabelecer contato é uma doença que
afeta os homens desde que o mundo é mundo. O hiato que existe entre o eu e o outro
parece impreenchível, inextinguível. Talvez porque a linguagem verbal seja falha em si, ou
porque ela nunca vá suprir o nosso desejo de comunicar uma idéia, ou um sentimento,
talvez porque a palavra jamais possa expressar a nossa mente em sua totalidade e
complexidade, esta lacuna venha a se formar entre as pessoas. No entanto, existem muitas
outras formas de se fazer contato, formas ainda inexploradas por nossos cérebros. E
também existem formas tão simples, ainda mais antigas que a palavra, que conhecemos
muito bem, mas que muitas vezes não conseguimos utilizar.
“A máquina de abraçar” fala de uma janela que pode ser aberta, não sem dificuldade, mas
com coragem e fé no homem. Aliando a experiência estética, pela qual a platéia passará
durante o espetáculo, a poesia do texto, pretendemos chegar a um resultado diferenciado,
onde os limites da cena se alargam e a vivência do espectador alcança outras percepções.
Esperamos desta maneira, que a montagem de “A máquina de abraçar” fique na memória
do espectador não como algo a que se assistiu, mas como algo experimentado.
No teatro trabalhamos basicamente com a linguagem. Criamos códigos para que o
espectador perceba e apreenda o nosso discurso. A teatralidade vem desta mistura de
códigos visuais, verbais, sonoros, uma gama de ferramentas de que lançamos mão para
criar uma outra realidade, metafórica, poética. Buscamos fazer contato com o público
falando a nossa língua, a língua do teatro. Neste caso, há muitas barreiras a serem
vencidas, tais como as barreiras vencidas pelas personagens da peça em questão. Mas, se
o contato é feito, trata-se de uma experiência inesquecível. “A máquina de abraçar” nos
permite falar também deste diálogo, tão artesanalmente construído, entre o que se passa
no palco e a platéia.
Composto por inúmeras camadas, este texto oferece uma infinidade de abordagens e
enfoques, todos eles atuais, universais, essenciais.
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